Fala de Powell abre margem para manutenção de flexibilização monetária
Em declaração dada nesta segunda-feira, o presidente do Fed se mostrou preocupado com possível piora no cenário econômico causado pela nova variante do coronavírus.O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse hoje (29/11) que o surgimento de uma nova variante do COVID-19 pode desacelerar a economia e a recuperação das contratações, ao mesmo tempo que aumenta a incerteza sobre a inflação.
“O recente aumento nos casos de delta e o surgimento da variante ômicron representam riscos de baixa para o emprego e a atividade econômica e aumentam a incerteza para a inflação”, disse Powell na segunda-feira em declaração para o Comitê Bancário do Senado, que se reúne nesta terça-feira (29/11).
Além das possibilidades de piora na demanda e oferta de empregos, a nova variante também pode intensificar as interrupções na cadeia de abastecimento, disse o presidente do banco central norte-americano.
Os comentários de Powell foram feitos depois que outras autoridades do Fed disseram nas últimas semanas que o banco central deveria considerar o encerramento de suas políticas de compras de ativos e taxas de juros zero mais rápido do que o planejado previamente.
Eles citaram preocupações com a inflação, que atingiu seu pico de três décadas.
Powell prega cautela com política monetária
Apesar das falas dos membros do Fed e das expectativas de analistas do mercado, as observações de Powell sugerem que a incerteza adicional levantada pela variante ômicron pode complicar os próximos passos do Fed.
“Uma preocupação maior com o vírus poderia reduzir a disposição das pessoas para trabalhar presencialmente, o que desaceleraria o progresso no mercado de trabalho e intensificaria as interrupções na cadeia de suprimentos”, disse Powell.
Ainda se sabe pouco sobre os reais efeitos da variante ômicron na saúde das pessoas. Entretanto, se a nova cepa do vírus fizer os americanos recuarem nos gastos e desacelerar a economia, por conseguinte, isso poderia aliviar as pressões inflacionárias nos próximos meses.
Como consequência, o Fed poderia ser levado a prorrogar a flexibilização monetária sem que a inflação seja afetada.
No entanto, se a nova variante causar outra onda de fechamentos de fábricas na China, Vietnã ou outros países asiáticos, este cenário poderia piorar os problemas da cadeia de suprimentos, especialmente se os americanos continuarem comprando mais móveis, eletrodomésticos e outros bens.
Ou seja, isso pode elevar ainda mais os preços nos próximos meses.
Powell reconheceu que a inflação “impõe fardos significativos, especialmente para aqueles menos capazes de arcar com os custos mais elevados de itens essenciais como alimentação, moradia e transporte”.
Ele disse que a maioria dos economistas espera que a inflação diminua ao longo do tempo, à medida que as restrições de oferta diminuam, mas acrescentou que “os fatores que empurram a inflação para cima permanecerão no próximo ano”.
Em entrevista coletiva no mês passado, Powell disse que a alta inflação pode persistir até o final do verão.
Expectativas para a última reunião do Fed em 2021
Em sua última reunião do ano, em 2 e 3 de novembro, os formuladores de políticas do Fed concordaram em começar a reduzir os US$ 120 bilhões em compras mensais de títulos do banco central em US$ 15 bilhões por mês. Isso encerraria as compras em junho.
Essas compras de títulos, uma medida de emergência iniciada no ano passado, têm como objetivo manter as taxas de juros de longo prazo para encorajar mais empréstimos e gastos.
O Fed fixou sua taxa de juros de curto prazo em quase zero desde março do ano passado, quando o COVID-19 surgiu pela primeira vez. Essa medida influencia outros custos de empréstimos, como hipotecas e cartões de crédito.
Na semana passada, o Fed divulgou a ata da reunião de novembro que mostrou que alguns dos 17 formuladores de políticas do Fed apoiaram a redução das compras de títulos mais rapidamente, especialmente se a inflação piorar.
Isso daria ao Fed a oportunidade de aumentar sua taxa de referência já no primeiro semestre do próximo ano.
Naquela época, os investidores esperavam três aumentos nas taxas no próximo ano, mas as chances de muitos aumentos caíram drasticamente desde o surgimento da nova variante do coronavírus.