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A bolsa está barata, mas incertezas vão continuar derrubando as cotações

Por :
Tales Rabelo Freitas
Atualizado: Nov 26, 2021, 20:58 GMT+00:00

A piora nas expectativas de inflação e juros vêm inibindo a entrada de investidores, mesmo que as ações já estejam baratas.

A bolsa está barata, mas incertezas vão continuar derrubando as cotações

Nesse artigo:

As notícias de hoje afundaram ainda mais a bolsa de valores brasileira. As ações seguem uma trajetória de queda que parece não ter fim. 

O indicador de P/L (Preço sobre o Lucro) do Ibovespa já está em um patamar próximo das mínimas históricas. Isso indica que as ações do índice estão mais baratas em relação ao lucro que elas entregam aos acionistas.

Porém, como já mostrei por aqui, o P/L baixo não é garantia de que se está comprando ativos realmente baratos. É possível que as quedas continuem mais fortes ainda nos próximos períodos.

A questão que fica é: até quando vai cair?

Infelizmente não há resposta definitiva, pois a economia é um sistema cheio de complexidades e incertezas.

Não temos certeza nem mesmo quanto ao presente, pois tudo que fazemos hoje é com base no que esperamos do futuro.

Se os investidores acreditam que o futuro é promissor, então a demanda por ativos sobe e a economia avança. 

Mas se as expectativas são ruins, as pessoas irão buscar segurança (dólar, ouro e títulos públicos de países desenvolvidos), o que causará um aumento na venda de ativos e estagnação da economia. 

Essa dinâmica é vista tanto no lado da produção quanto no financeiro, e gera uma complexidade tal que interliga o futuro e o presente em uma via constantemente cambiante.

Dessa forma, temos em economia uma relação causal circular entre futuro e presente, no qual o futuro é construído no agora, com base nas nossas visões atuais sobre o próprio futuro.

Feito essa divagação, vamos aplicá-la para o que nos interessa aqui, que é o mercado de capitais.

No momento, o que temos no presente são expectativas cada vez piores para a inflação e juros.

Isso pode ser visto no relatório Focus do Banco Central, divulgado toda segunda-feira. 

No caso da inflação, temos que o mercado estimava, há quatro semanas atrás, um IPCA de 8,96% para o final de 2021. Há duas semanas, as estimativas pioraram para 9,77%, e agora, no último relatório, as previsões apontam para um aumento médio dos preços de 10,12% até o fim do ano.

Como as expectativas de inflação sobem, o mercado espera que os juros irão subir para controlar a alta dos preços.

Ainda no relatório Focus, há quatro semanas atrás, as expectativas eram de uma Selic de 8,75% no fim de 2021. Essa estimativa era de 3% em janeiro, e agora é de 9,25%!

Como podemos ver, a cada semana que passa, as expectativas pioram mais ainda, ou seja, não há ainda uma clareza sobre até quando as coisas vão parar de piorar e começar a se estabilizar.

Com essa piora nas perspectivas, é comum o pessimismo se instalar na mente dos agentes econômicos. 

Mesmo que a bolsa caia e dê a impressão de que as ações estejam baratas, a verdade é que os investidores estão se sentindo inseguros com o futuro da economia e dos lucros das empresas.

Além disso, o efeito da inflação sobre os juros aumenta o custo de oportunidade do capital. Há títulos públicos do governo que estão pagando mais de 12% ao ano.

Para que a bolsa de valores se torne interessante, será necessário um ganho esperado bem maior que isso para atrair as pessoas.

Perante o exposto, podemos inferir que a bolsa de valores só irá parar de cair a partir do momento em que a sensação de incerteza diminuir e os investidores conseguirem enxergar um futuro com mais clareza no horizonte.

Para deixar mais claro ainda, os investidores só irão parar de vender ativos quando a inflação esperada para o futuro cair e quando o Banco Central deixar claro o ponto máximo para o qual levará a Selic.

Sobre o Autor

Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.

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