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Cripto x China – o choque entre dois mundos completamente diferentes

Por :
Victor Raimundi Brandao Alberto de Mello
Publicado: Sep 16, 2021, 22:14 UTC

Enquanto os demais tigres asiáticos se aproximam cada vez mais do Bitcoin, Ethereum e altcoins variadas, a China, líder da “alcateia", se afastou das novas possibilidades (mesmo após demonstrar muito interesse). Após espantar exchanges e carteiras originadas em seu território, intensificou, mais recentemente, o combate à mineração em seu território.

Nota de iuan, moeda da China

Nesse artigo:

Tecnicamente, desde 2017 vemos movimentações da China inibir atividades relacionadas à promoção de criptomoedas, como por exemplo, contra a a própria mineração.

Ainda com alguns fechamentos esporádicos de centros de mineração, a atividade seguiu relativamente aberta, com o país ainda batendo 80% da produção de criptoativos mundiais mesmo após a pressão governamental.

Guerra ao criptoativo

Mas foi a partir de maio de 2021 que, oficialmente, o posicionamento contrário do governo chinês frente aos ativos começou a tomar forma real na proibição de transações de criptomoedas por instituições bancárias e demais empresas com serviços de pagamento.

Em junho, a ofensiva chinesa ao Bitcoin (BTC) foi sentida no mundo todo. A ordem oficial para fechamento de 26 minas da moeda virtual na província de Sichuan cortou em cerca de 90% a capacidade de produção de ativos na época.

Com a baixa considerável na mineração vinda na forma de um forte recado chinês, o Bitcoin se desvalorizou em mais de 10% no dia 21, batendo no fim das contas baixa de US$ 32.309 mesmo tendo pouco tempo antes registrado alta de US$ 65 mil.

Nessa quinta (16), após o presidente Xi Jinping ter ido à público mais uma vez para criticar criptomoedas na semana passada, a caça às bruxas de maneira começou de maneira mais direta.

A Comissão de Segurança de Rede e Tecnologia da informação, um dos braços do Partido Comunista Chinês, deu até o final de setembro para que departamentos sob sua responsabilidade acabem com qualquer atividade que tenha ligação com a atividade classificada agora como “ilegal” de mineração.

A justificativa inicial é de que “a mineração de criptomoedas consome uma quantidade enorme de energia, o que vai de encontro com as metas da China na neutralização de carbono”, conforme comunicado do órgão.

Entretanto, pouco depois, mais posicionamentos da comissão foram revelados, destacando os “grandes riscos financeiros” envolvidos no mercado, além de que o próximo passo, já a partir de outubro, seria de intensificar o monitoramento nos setores para punir que desrespeitasse as ordens.

Como reflexo inicial, mas ainda modesto frente a outros momentos desse cabo de guerra, o Bitcoin vem operando em baixa de 1,5%, sendo negociado à US$ 47.426 às 18h33 desse dia 16.

Motivações reais para a aversão

O discurso de que o principal interesse para o combate à mineração é ambiental não passa de uma cortina de fumaça, apesar da relevância do assunto. Mas isso não significa que o posicionamento não tenha interesse em “proteger” os chineses não seja real.

Apesar de na ascensão do Bitcoin o flerte natural entre uma superpotência econômica e um ativo promissor ter acontecido, é nítido o quanto que a natureza e os objetivos dos criptoativos divergem da maneira de como a China é governada, com a discordância indo além do âmbito econômico.

O controle e a fiscalização são pilares do modus operandi governamental, enquanto os princípios de qualquer criptoativo passam pela liberdade da transação direta entre pares, com o sistema de validação passando longe de estar sobre o domínio de alguma instituição tradicional e centralizadora, bem como todo o processo que envolva seu desenvolvimento e distribuição.

Já nas questões das cifras, a China alega temer crescimento de movimentações financeiras em atividades ilícitas (outra justificativa plausível por si só). Mas quando diz que as ações são para “prevenir e controlar riscos nas finanças” em comunicados oficiais, não é difícil de interpretar que seu característico mercado de captais mais fechado teria problemas para controlar qualquer movimentação feita em criptomoedas.

Enquanto isso, desde o início de 2020, o Yuan Digital – moeda virtual do Banco Central da China – já ganhou espaço no maior evento de economia do país, foi utilizado para pagamentos na Bolsa de Commodities de Dailian e, até meados de julho desse ano, havia movimentado mais de US$ 5,3 bilhões.

A ideia desde o início do projeto era sim de modernizar transações econômicas locais, assim como facilitar também a vida de turistas.

Mas caso o mercado desse tipo de ativo siga na expansão esperada, tomando negociações de porte maior com frequência em bolsas e afins, tudo indica que quem quiser negociar com a segunda maior economia do mundo terá que abrir mão de outros ativos e adquirir Yuan Digital, justamente por conta desse cerco às demais moedas.

Nesse cenário, controle e valorização poderiam viriam numa tacada só, o que moldaria à força o mundo dos criptoativos ao controle do governo chinês.

Sobre o Autor

Com trabalhos de destaque no meio da comunicação desde o primeiro semestre do curso de jornalismo, Victor se aproximou da cobertura econômica ao redigir e apresentar conteúdos diários sobre o mercado para milhares de ouvintes, espectadores e internautas.

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