Intervenção chinesa vem sendo uma das principais justificativas para a queda do preço do minério de ferro nos últimos tempos.
O objetivo da China é arrefecer as pressões inflacionárias derivadas do boom de commodities, enquanto contribui para os planos de emissão de carbono, e isso inclui a produção de aço e minério de ferro.
A Associação de Ferro e Aço da China (CISA) disse neste último sábado (23/10) que os participantes da indústria devem garantir o fornecimento enquanto mantêm os preços estáveis em uma “situação de mercado complexa, volátil, instável e incerta”.
Em postagem feita na página oficial da associação, o presidente He Wenbo afirmou que é necessário prestar muita atenção à recuperação da produção global de aço, ajustando a produção e melhorando a governança do setor.
Além disso, o controle da produção visa alcançar os objetivos do governo chinês em relação ao consumo de energia e diminuição das emissões de gás carbônico no país.
A China emitiu um plano de ação para diminuir o crescimento das emissões de carbono, de modo que o pico seja definido antes mesmo de 2030.
Para isso, o governo tem instado a indústria a continuar a cortar a capacidade de aço, melhorar as taxas de reciclagem de sucata de aço e promover tecnologias de fornos elétricos a arco.
Consequentemente, as restrições na produção de aço impactam fortemente a demanda por minério de ferro, cuja commodity é o insumo principal da produção de ligas metálicas.
Segundo analistas da CITIC Securities, “as restrições ambientais devem restringir definitivamente a produção e o fornecimento de aço, e, dessa forma, a demanda de minério de ferro será prejudicada no longo prazo”.
Se, de um lado, essa medida é ruim para os preços do minério de ferro, de outro, as restrições na produção do aço também rebatem sobre os valores da própria liga metálica.
Isso porque o consumo de aço inoxidável ainda está lento no curto prazo, já que o recente racionamento de energia prejudicou as atividades de manufatura na segunda maior economia do mundo.
Com este cenário, os contratos futuros do aço chinês caíram nesta quarta-feira, juntamente com os preços do minério de ferro.
No geral, o contexto de restrições na produção do aço na China e menores pressões sobre o minério de ferro é positivo para empresas do setor siderúrgico, como a Gerdau.
A princípio, a tendência é de que os custos com insumos, como o minério de ferro, caiam mais do que as receitas, derivadas das vendas de aço.
A siderúrgica Gerdau apresentou lucro de R$ 5,58 bilhões no terceiro trimestre deste ano. O valor é 610% maior do que os R$ 785,5 milhões apurados no mesmo período de 2020.
A receita avançou 74,4% de julho a setembro de 2021, enquanto que os custos cresceram 42%.
Para a Ativa Investimentos, “o resultado operacional reflete o momento positivo do setor de construção, sobretudo na América do Norte, bem como os maiores preços globais de aço”, destacou a casa.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.