O IBGE divulgou hoje o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de setembro. O resultado de 1,16% ficou levemente abaixo das expectativas.
Essa foi a maior taxa de inflação para meses de setembro desde o início do Plano Real, em 1994.
Apesar disso, o resultado ficou próximo do esperado por analistas do mercado. Conforme consulta feita pelo Valor Data, a mediana das projeções de 38 instituições financeiras e consultorias apontava para um IPCA de 1,25%.
Esse valor elevado das expectativas se deveram aos aumentos dos combustíveis e da energia elétrica.
Em setembro, entrou em vigor a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
No mais, dos 10 grandes grupos do índice, apenas três tiveram aumento em relação a agosto: Habitação, Transportes e Saúde e Cuidados Pessoais.
Os demais componentes, como alimentação e vestuário, aumentaram menos do que em agosto.
Grupo | Variação (%) | Impacto (p.p.) | ||
Agosto | Setembro | Agosto | Agosto | |
Índice Geral | Índice Geral | 1,16 | 0,87 | 1,16 |
Alimentação e Bebidas | 1,39 | 1,02 | 0,29 | 0,21 |
Habitação | 0,68 | 2,56 | 0,11 | 0,41 |
Artigos de Residência | 0,99 | 0,9 | 0,04 | 0,04 |
Vestuário | 1,02 | 0,31 | 0,04 | 0,01 |
Transportes | 1,46 | 1,82 | 0,31 | 0,38 |
Saúde e Cuidados Pessoais | -0,04 | 0,39 | -0,01 | 0,05 |
Despesas Pessoais | 0,64 | 0,56 | 0,06 | 0,06 |
Educação | 0,28 | -0,01 | 0,02 | 0 |
Comunicação | 0,23 | 0,07 | 0,01 | 0 |
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços |
Diante dos dados divulgados hoje, é possível projetar uma inflação menor nos próximos meses. Isso se a desaceleração verificada na maioria dos componentes do IPCA se mantiver.
Se considerarmos o relatório Focus, as expectativas são de que a inflação termine o ano em 8,51%. Esse valor é menor do que o IPCA acumulado dos últimos 12 meses (10,78%.)
Uma desaceleração mais rápida da inflação, combinado com a queda da produção industrial e das vendas do varejo, poderia contribuir para uma revisão da política monetária.
Porém, outros fatores permanecem no radar, como o risco político e a retomada dos serviços.
A inflação brasileira poderia ser mais alta se não fosse a fraca recuperação do setor de serviços. Os preços deste grupo vem acumulando alta de 4,41% em 12 meses, bem abaixo do IPCA.
Isso ocorre porque o setor ainda está em processo de recuperação. Os serviços ainda sentem os efeitos do elevado nível de desemprego e as paralisações causadas pela pandemia.
Com a queda dos índices de mortalidade e contaminação pela Covid-19, o esperado é que o setor volte a funcionar normalmente.
Sendo assim, um possível aumento da demanda por serviços contribuiria para aumentar a capacidade de repasse dos acréscimos dos custos ao longo dos últimos períodos. Isso, por sua vez, retroalimentaria a inflação.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.