A inflação veio abaixo do esperado, com queda no preço dos alimentos e pressionada por combustíveis. Analistas projetam juros menores no futuro, o que ajuda na recuperação da bolsa.
O IBGE divulgou hoje o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro. O índice que mensura a inflação no Brasil ficou em 0,95%.
O dado veio abaixo da taxa de 1,25% de outubro, porém, maior do que os 0,89% do mesmo período do ano passado.
Essa foi a maior variação para um mês de novembro desde 2015 (1,01%). No ano, o IPCA acumula alta de 9,26%.
Nos últimos 12 meses o aumento dos preços foi de 10,74%, acima dos 10,67% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, variação maior desde novembro de 2003 (11,02%).
No geral, o resultado mostrou uma desaceleração em relação a outubro, ficando, inclusive, abaixo das expectativas de mercado, que previam um IPCA de 1,10% em novembro.
A maior pressão veio do componente de transportes, o qual abarca os combustíveis. Só este grupo foi responsável por 0,72 pontos percentuais do índice total.
Os outros itens vieram com forte desaceleração. Os alimentos e bebidas tiveram variação negativa de 0,05%, ante alta de 1,17% em outubro. O grupo de saúde e gastos pessoais também caiu (-0,57%).
Esse resultado do IPCA traz importantes implicações sobre as expectativas dos agentes econômicos sobre os juros futuros.
Uma inflação mais baixa significa que o Banco Central terá mais folga para manobrar a taxa Selic nas próximas reuniões.
Caso o arrefecimento se mantenha em dezembro, será confirmada a desaceleração inflacionária, o que deve fazer com que a autoridade monetária diminua o ritmo de aperto monetário.
Na quarta-feira (09/12), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,50%, para 9,25% a.a.
Alguns economistas de mercado já falam em aumento menor, de 1,00% na próxima reunião do Copom, em fevereiro.
Outros fatores corroboram para essa tese, como a desaceleração da atividade econômica e as previsões de recessão no ano que vem.
No terceiro trimestre de 2021, a produção brasileira (PIB) caiu 0,1%, enquanto que no segundo trimestre a queda foi de 0,4%, o que coloca o país em recessão técnica (quando há 2 trimestres consecutivos de queda na atividade).
Diante deste cenário, algumas críticas já começam a surgir sobre a conduta exageradamente hawkish.
Enquanto outros Bancos Centrais do mundo mantêm os juros em baixa, entendendo que a inflação atual é resultado de desajustes do lado da oferta, a autoridade brasileira insiste em manter o diagnóstico da inflação de demanda.
Para o mercado, a boa notícia é que está ruim. O crescimento baixo e a inflação desacelerando têm derrubado os juros dos títulos com prazos de vencimentos mais longos.
Com a queda da renda fixa, a bolsa de valores ganha um estímulo. Desde o início do mês, o Ibovespa já subiu cerca de 6%, e deve manter o ritmo de alta nesta sexta-feira (10/12).
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.