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O que tem afetado o preço do boi gordo?

Por :
Tales Rabelo Freitas
Atualizado: Dec 9, 2021, 21:42 UTC

As cotações do boi gordo vem se comportando como uma montanha russa nos últimos meses. Entenda quais os principais fatores têm afetado os preços da commodity.

O que tem afetado o preço do boi gordo?

A carne bovina tem sofrido fortes oscilações desde setembro, quando a China aplicou o embargo ao gado brasileiro com a confirmação de dois casos de “doença da vaca louca” no país.

De lá pra cá, as cotações caíram de R$ 310,00 a arroba para R$ 255,00, entre setembro e outubro, e depois se recuperaram, subindo até R$ 330,00 agora no fim de novembro. 

Nos últimos dias, as quedas voltaram, com a arroba sendo negociada a R$ 306,00, nesta quinta-feira (09/12).

Além dos embargos da China, vários outros fatores têm contribuído para o sobe e desce das cotações. Vejamos os principais.

Embargos da China

Em setembro, a China parou de importar carne do Brasil. O país declarou embargo às exportações brasileiras após a identificação de dois casos de vaca louca em frigoríficos em Minas Gerais e Mato Grosso.

O efeito foi imediato. Em outubro, os embarques de carne bovina caíram expressivos 43% em relação ao mesmo mês de 2020. 

Apesar de a Organização Mundial de Saúde Animal afirmar que os casos eram atípicos e espontâneos e que, portanto, não apresentavam risco para a cadeia produtiva, o embargo foi mantido. 

Com isso, em outubro, o Ministério da Agricultura concedeu autorização para o armazenamento de carne bovina em contêineres por até 60 dias do que foi produzido antes do bloqueio, em 4 de setembro.

Até então, a legislação sanitária permitia apenas o armazenamento em câmaras frias.

Assim, a indústria pôde manter o produto estocado e não precisou necessariamente disponibilizar o excedente para o mercado interno. 

Essa dinâmica ajudou a recuperar os preços elevados no mercado doméstico no mês de outubro.

Já no fim de novembro, a China deu o primeiro sinal de flexibilização e permitiu a exportação da carne certificada pelo menos até o dia anterior ao embargo (3 de setembro), que foi, então, embarcada para a Ásia.

De lá para cá, a indústria vem reequilibrando seus estoques, enquanto o bloqueio segue mantido.

Baixa demanda no mercado interno

Outro evento que tem impactado a dinâmica do preço da carne no Brasil é a baixa demanda do mercado.

Até então, os analistas e agentes ligados ao setor pecuário esperavam um aumento no consumo interno de carne bovina nas primeiras semanas de dezembro.

Acreditava-se que o pagamento do 13º salário, mais as proximidade das festividades de final de ano, quando teoricamente há uma maior procura pela carne vermelha, ajudaria a segurar o preço da carne nas alturas. 

Porém, o que se vê é que, segundo informações da Agrifatto, as vendas de carne bovina no mercado atacadista de São Paulo seguem fracas.

Na avaliação da consultoria, muitos consumidores seguem optando por proteínas concorrentes, como o frango e carne suína, que se mostram mais atrativas devido ao custo-benefício.

Alongamento das escalas de abate

A queda das vendas tem feito os grandes frigoríficos pressionarem os pecuaristas, devido ao desdobramento do avanço das escalas de abate na virada do mês.

“Com uma escala mais confortável, com capacidade para atender todos os pedidos do varejo no período de maior demanda do ano, não há tamanha necessidade em pagar tanto pela arroba do boi gordo.”, disse Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado. 

“Para que novos pontos de máxima sejam alcançados, há a necessidade de algum fato novo, a exemplo de um potencial recredenciamento da carne bovina brasileira por parte da China, que criaria um grande otimismo com potencial para alicerçar nova rodada de reajustes”, completou o analista.

Atualmente, não há indícios de quando a China voltará a comprar a carne bovina do Brasil. Inclusive, as expectativas indicam que qualquer autorização para nova produção de carne bovina com destino ao mercado chinês ocorra apenas em 2022.

Ciclo do boi gordo

Todos estes fatores devem ser analisados levando em conta o contexto do ciclo do boi gordo.

A cadeia de produção de carne bovina tem uma série de particularidades. Não é possível aumentar e diminuir a quantidade de bois no pasto de forma imediata, a depender do nível de demanda.

No geral, o tempo médio de gestação das vacas é de cerca de 9 meses. Já o período para que um bezerro se torne um animal pronto para o abate, por sua vez, gira em torno de dois anos. 

Tudo isso faz com que o ciclo de altas e baixas da produção dure cerca de 6 ou 7 anos.

Quando o preço do boi está elevado, como temos no cenário atual, a tendência é que os pecuaristas mandem as fêmeas (ou “matrizes”) para o abate. 

Consequentemente, a oferta de animais aumenta e o preço do gado tende a se reduzir.

Por outro lado, um volume menor de fêmeas significa uma menor produção de bezerros (chamados de “animais de reposição”). 

Por sua vez, isso dará início à próxima etapa do ciclo, com a tendência de elevação nos preços dos bezerros.

Essa alta, por sua vez, estimula a retenção de fêmeas, de forma que os preços dos bezerros tendem aos poucos a recuar. 

Por fim, com menos fêmeas disponíveis para o abate, é o preço do boi que começa a subir, e o ciclo se inicia novamente.

O que temos hoje é que o preço do boi vem subindo por conta de um abate de fêmeas elevado que ocorreu até 2019, o que fez faltar os animais de reposição. Agora os produtores estão retendo mais fêmeas para criar bezerros.

Sobre o Autor

Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.

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