Há dois anos, analistas previram que os preços do petróleo e do gás ficariam em baixa por muito tempo. A realidade atual, entretanto, revela outra história.
No passado recente, o setor de energia estava sendo orientado a se acostumar com o fato de que os preços do petróleo e do gás natural tenderiam a serem negociados a preços baixos por um longo tempo.
Isso porque, havia a expectativa de que novas matrizes energéticas, menos poluentes, estariam avançando, de modo que o petróleo ofertado seria excessivo perante a demanda global.
Porém, a realidade atual é bem diferente da prevista. Tivemos, no final de outubro, preços recordes para o petróleo, com cotações bem acima dos US$ 80 por barril.
O mesmo cenário prevalece para o gás natural e o carvão.
Em todos os casos, o que vemos é que os preços recordes neste ano foram causados tanto pelo aumento repentino na demanda quanto pelos anos de subinvestimento.
Atualmente, vários analistas estão divididos em suas opiniões sobre se este é apenas um problema temporário e de curta duração ou se pode se estender por um período mais longo.
Alguns acreditam que o mercado irá se estabilizar assim que as pressões da pandemia se arrefecerem e as condições normais retomarem nos mercados globais.
Acredita-se que a retomada dos investimentos adequará o volume ofertado de gás se à demanda do setor.
Há, inclusive, vários fatores indicando para isso.
As empresas americanas estão planejando bilhões de investimentos em outra onda de instalações de exportação de gás natural liquefeito (GNL).
A Rússia está bombeando a um ritmo recorde e planejando novos aumentos de produção.
O Qatar está expandindo sua capacidade de produção de gás substancialmente nos próximos anos, e a Austrália tem como objetivo se tornar o maior exportador mundial de GNL.
Porém, há motivos para esperar um outro cenário no setor energético, o que faria com que as condições atuais não sejam apenas um mero choque derivado de uma crise momentânea.
A justificativa desta tese se baseia na desaceleração das novas decisões de investimento devido às pressões das novas tendências de investimentos em setores sustentáveis.
Essa pressão é exercida por bancos e fundos ESG (sigla para Environmental, social and governance) e podem gerar receio sobre a expansão do setor de energia, visto que tem havido uma exigência cada vez maior para que os novos investimentos sejam alinhados à sustentabilidade ambiental de longo prazo.
Atualmente, o investimento em combustível fóssil tem sido desprezado, de modo que o financiamento se tornou escasso à medida que os grandes bancos ocidentais se retiram dos empreendimentos.
Se do lado da oferta há a incerteza quanto à expansão ou estagnação, o contrário ocorre com a demanda por combustíveis fósseis.
Essa matriz energética representa cerca de 84% da demanda global de energia, mesmo número que em 1980.
Isso significa que a demanda por petróleo e gás, e em menor medida, carvão, é resistente à queda.
Para sua redução, seria necessário medidas mais radicais por parte das instituições nacionais e internacionais, ou alguma forte tendência natural, como o subinvestimento e as novas práticas de financiamento.
Por fim, vale destacar que este texto não buscou trazer qualquer recomendação de investimento, mas sim elencar alguns fatores que devem governar a dinâmica dos mercados de petróleo ao longo dos anos, os quais os investidores devem ficar atentos.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.