A subida dos preços do petróleo parece não ter fim. A cotação do brent ultrapassou os US$ 85, enquanto o WTI segue acima dos US$ 84.
Os valores do brent e do WTI mais do que dobraram desde o colapso econômico provocado pela pandemia da Covid-19.
No geral, os investidores e especuladores no mundo todo vêm apostando na manutenção dos desequilíbrios estruturais, que jogam a oferta da commodity para patamares abaixo da demanda global.
O descompasso entre oferta e demanda é provocado principalmente pela crise energética. Os crescentes preços do gás natural na Ásia estão levando os consumidores e industriais a comprar mais petróleo para uso na geração de energia.
Do lado da demanda, temos a recuperação das principais economias após as políticas expansionistas e a gradual queda das restrições à mobilidade, na medida em que os números de mortes e contágios pela Covid-19 vão diminuindo.
Já do lado da oferta, temos que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, grupo conhecido como Opep+, têm mantido a cautela em aumentar a oferta no mercado internacional.
A justificativa é que há ainda receio em relação a possíveis cortes na produção dos países, como ocorreram durante as fases iniciais da pandemia.
Segundo o Ministro da Energia da Arábia Saudita, Príncipe Abdulaziz bin Salman, em entrevista concedida à Bloomberg Television, na segunda-feira, a Opep+ deve manter a sua abordagem cautelosa, dada a ameaça que a pandemia ainda representa para a demanda.
A teoria do déficit de oferta no mercado de petróleo vem de longa data.
Desde o colapso dos preços em 2014, vários analistas têm argumentado para a possibilidade de a demanda superar a produção como resultado do subinvestimento.
No geral, há um apetite cada vez menor dos investidores para financiar atividades ligadas à exploração e refino de combustíveis fósseis.
Os maiores bancos franceses, por exemplo, disseram que vão limitar o financiamento da indústria de xisto e de gás natural a partir do início do ano que vem.
A mesma dificuldade foi encontrada no Equador. Inclusive, neste caso, o país teve que dobrar a quantidade de bancos que poderiam fornecer garantias de crédito, pois instituições financeiras têm evitado financiar petróleo extraído da Amazônia.
As estimativas em relação ao futuro do preço do petróleo são bastante diversas.
Entre os bancos que projetam preços mais altos por mais tempo está o Goldman Sachs. O banco norte-americado prevê que o barril do brent se mantenha acima dos US$ 85 até 2023.
Ainda de acordo com o banco de investimento, a recuperação da demanda global, ajudado pela recuperação do consumo na Ásia após a recente onda de Covid-19 causada pela variante delta, pode forçar os preços do petróleo Brent acima dos US$ 90 por barril.
Outras instituições mantém uma previsão mais baixa para o preço da commodity.
O Morgan Stanley aumentou sua estimativa de longo prazo em US$ 10, para US$ 70 na semana passada. Já o BNP Paribas calcula uma cotação de cerca de US$ 80 até 2023.
Por fim, há aqueles que acreditam que o patamar atual da cotação do petróleo é insustentável. É o caso do Citygroup, que afirmou em relatório este mês que o preço do barril deve se manter entre US$ 40 e US$ 55 no longo prazo.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.