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Quase inversão da curva de Juros no Brasil acende alerta de recessão

Por :
Tales Rabelo Freitas
Atualizado: Nov 4, 2021, 17:10 UTC

Na literatura econômica, é um fato estilizado muito conhecido que uma curva de juros negativamente inclinada (flat) está associada a períodos de recessão pela frente.

Prédio do Banco Central em Brasília. 29/10/2019. REUTERS/Adriano Machado.

Ontem (28/10) o Banco Central (BC) decidiu por aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 1,5%. Com isso, a Selic passou de 6,25% para 7,75% ao ano.

Essa reação da autoridade monetária tem sido atrelada à política do governo de flexibilizar o teto de gastos.

Com a deterioração fiscal, grande parte dos analistas temem uma maior pressão sobre a inflação, o que requer um aperto monetário maior para evitar que a situação saia do controle.

O problema é que essa decisão joga pressão sobre a atividade econômica, pois juros mais altos inibem a produção e os investimentos. 

Consequentemente, o contexto da política econômica brasileira gerou reação negativa nos mercados, de modo que os agentes já vislumbram uma estagnação, e outros até mesmo uma recessão, no próximo ano.

Isso é refletido na curva de juros dos títulos públicos, que na verdade deixou de ser curva para virar uma reta.

O que aconteceu foi que os juros de longo prazo estão no mesmo patamar que os juros de curto prazo. 

Tal situação sinaliza que o mercado espera uma desaceleração da economia pela frente, o que implicará na necessidade de um afrouxamento monetário em um futuro próximo.

O que é a curva de juros?

A curva de juros, também chamada de curva a termo, é um gráfico que expressa a taxa de juros cobrada para um título de mesma qualidade mas com períodos de tempo diferentes.

Geralmente, quanto maior o tempo de maturidade de um título, ou seja, quanto mais longo for o seu vencimento, maior tenderá a ser os juros pagos pelo título.

Porém, isso não é uma regra geral, pois pode ocorrer casos em que os juros longos sejam iguais ou até mesmo inferiores aos juros dos títulos de curto prazo.

Assim, além do formato positivamente inclinado, temos que a curva de juros também pode ter inclinação horizontal (também chamada de flat) ou negativa (curva invertida).

Curva de juros no Brasil

No Brasil, atualmente temos uma curva de juros “flat”, pois os juros de longo prazo estão no mesmo patamar dos rendimentos dos títulos de curto prazo.

A literatura mostra que este é um sinal típico de um momento de transição das expectativas em relação ao futuro da economia.

Quando a economia está passando da expansão para uma estagnação, ou até mesmo recessão, os rendimentos dos títulos de vencimento mais longo tendem a cair.

Isso significa que o mercado espera que, em um prazo não tão longo, a autoridade monetária terá que começar a diminuir os juros devido à desaceleração da economia.

O estranho é que ainda não chegamos a acelerar, pois o crescimento deste ano, que provavelmente virá próximo aos 5%, será apenas suficiente para recuperar a recessão de 2020.

Já para o ano que vem, vários analistas do mercado não esperam um futuro muito promissor. 

Segundo o relatório Focus, o crescimento do PIB estimado pelo mercado é de 1,4%. 

Porém, as projeções estão só caindo a cada consulta feita. No início do ano as expectativas eram de que o país cresceria cerca de 2,5% em 2022. 

Inclusive, já há instituições que estão prevendo uma recessão de 0,5% para o ano que vem, como é o caso do Itaú Unibanco.

Sobre o Autor

Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.

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