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O Banco Central deve mesmo acelerar o ritmo de aumento da Selic?

Por :
Tales Rabelo Freitas
Atualizado: Nov 4, 2021, 17:12 UTC

As recentes decisões do governo federal deixaram o mercado atônito, o que tem impactado nas previsões de aumento da taxa Selic para as próximas reuniões do Copom. 

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central

De acordo com o boletim Focus, as expectativas da taxa Selic no fim do ano foram de 8,25% para 8,75%, e de 8,75% para 9,50% em 2022.

Porém, o contexto fiscal ruim foi diagnosticado não apenas nas expectativas dos agentes divulgadas no relatório Focus pelo Banco Central (BC), mas também na curva de juros, que começou a semana em forte alta.

Isso reflete o receio do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa estar preparando um choque de juros para tentar garantir a convergência da inflação para a meta nos próximos anos. 

A taxa do DI para janeiro de 2022 fechou em 8,308%, de 8,190% no ajuste de sexta-feira. Já a do DI para janeiro de 2023 terminou em 11,13%, ante 10,866%. 

A do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,507% para 11,64%. Enquanto que o DI para janeiro de 2027 encerrou praticamente estável, saindo de 11,814% para 11,80%.

Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, esse cenário indica que a curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) tem precificado possíveis altas da Selic acima de 1,25%, chegando a até 2 pontos porcentuais, no encontro da próxima quarta-feira.

Para finalizar a narrativa do aumento da intensidade do aperto monetário, na sexta-feira passada (22/10), Paulo Guedes deu carta branca para que o Campos Neto acelere o ritmo de aperto ao afirmar que o BC tem de ficar à frente da curva, diante da piora do cenário fiscal.

Excesso de aperto comprometerá o crescimento

Apesar das estimativas do mercado indicarem uma reação mais intensa do BC à piora da inflação e das contas públicas, a verdade é que este aumento pode não gerar o efeito desejado.

Isso porque já há analistas de mercado argumentando que o aumento exagerado da Selic pouco impactará a inflação, visto que grande parte dela tem sido alimentada pelos preços administrados e combustíveis.

Soma-se a isso o fato de que o câmbio, que também afeta fortemente o IPCA, tem reagido mais à incerteza política do que às decisões da autoridade monetária.

Diante disso, sem que seja equalizada a questão fiscal, os efeitos do aumento excessivo da Selic podem não ser suficientes para conter as pressões inflacionárias.

E pior, além de não resolver o problema da inflação e a contenção dos ânimos do mercado, a subida dos juros podem comprometer consideravelmente a atividade econômica.

Inclusive, nesta segunda-feira (25/10), várias instituições atualizaram suas estimativas para a macroeconomia, e todas preveem piora no cenário de crescimento e inflação.

O Itaú Unibanco, por exemplo, estima uma queda de 0,5% do PIB em 2022, ante expectativa anterior de crescimento de 0,5%.

Já em relação à Selic, a expectativa é de que seja elevada em 1,5 ponto percentual na próxima reunião, para 7,75%, encerrando o ciclo de alta a 11,25%.

Sobre o Autor

Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.

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