Estudo publicado na revista Sciense revela que empresas de petróleo e gás definiram metas incompatíveis com as metas climáticas internacionais.
Com a conferência do clima COP26 em andamento em Glasgow, as empresas globais de energia estão espalhando anúncios promovendo suas credenciais verdes.
Isso porque a indústria de petróleo e gás natural enfrenta uma ameaça existencial com a transição para uma economia de baixo carbono.
Cada vez mais as empresas respondem estabelecendo metas de emissão de gases de efeito estufa (GEE), que se apresentam como compatíveis com essa transição.
Apesar da propaganda, a indústria de petróleo e gás é responsável por cerca de 40% de todas as emissões de gases de efeito estufa.
Por isso mesmo, tentar passar uma impressão “verde e sustentável” é mais uma questão de minimizar os riscos do que de fato um compromisso com o clima.
Para Leonard Hyman e William Tilles, especialistas no setor de energia, a estratégia de declarar apoio a objetivos ambientais amplos serve a um propósito importante: “Pode adiar restrições governamentais ainda mais intrusivas e também serve para tranquilizar investidores nervosos”.
De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Sciense, de autoria de acadêmicos da London School of Economics and Political Science e OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), chamado “How ambitious are oil and gas companies’ climate goals?”, as metas de 52 empresas de gás e petróleo estudadas são incompatíveis com as metas climáticas internacionais.
No geral, as conclusões do estudo não são nada boas para o setor.
Das 52 principais empresas de petróleo e gás estudadas, apenas duas haviam definido objetivos que iriam realmente cumprir as metas climáticas de 2050 definida pelas conferências internacionais para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius.
Considerando a média das metas das empresas pesquisadas, os acadêmicos perceberam que as tendências recentes na intensidade das emissões têm sido praticamente estáveis.
“Quase metade das empresas que avaliamos ainda não definiram metas de emissões ou forneceram clareza suficiente sobre elas. Daqueles que estabeleceram metas, a maioria é muito rasa ou insuficiente”, conclui o artigo.
Para Hyman e Tilles, o estudo publicado na Science deve preocupar os investidores em relação tanto ao despreparo das empresas do setor de petróleo e gás para atingir as metas internacionais, quanto à magnitude das ações que deverão ser feitas para colocar os objetivos empresariais em conformidade com as restrições climáticas.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.