Vários países da Ásia vêm recuperando suas atividades industriais nos últimos meses. O receio agora é que a nova variante da Covid-19 possa frear este avanço.
A atividade industrial asiática cresceu no mês passado à medida que os gargalos de fornecimento diminuíram.
Entretanto, o aumento dos custos dos insumos e o novo enfraquecimento na China reduziram as perspectivas da região de uma recuperação rápida e sustentada no pós-pandêmica.
A recém detectada variante do coronavírus ômicron também surgiu como uma nova preocupação para os formuladores de políticas da região.
Entre os desafios já existentes estão o enfrentamento da estagnação em um contexto de descontrole inflacionário, em meio ao aumento dos custos das commodities e escassez de componentes.
Conforme mostrou o Índice de Gerentes de Compras (PMI) do setor manufatureiro, calculado pelo Caixin/Markit, a atividade industrial da China voltou a contrair no mês passado.
O índice caiu para 49,9 em novembro, enquanto esteve em 50,6 no mês anterior. A justificativa para a queda é a fraca demanda e os preços elevados.
O resultado da pesquisa privada, que foca mais em pequenas empresas em regiões costeiras, contrastou com o índice oficial do governo, que veio em 50,1, o qual mostrou que a atividade industrial cresceu pela primeira vez em três meses.
Vale lembrar que valores acima de 50 indicam crescimento da produção industrial, enquanto que abaixo indica retração.
Analistas preveem que a desaceleração no Produto Interno Bruto vista no terceiro trimestre continuará no quarto, com expectativa de que a demanda permaneça fraca dada a prolongada pandemia da Covid-19.
“O relaxamento das restrições do lado da oferta, especialmente o abrandamento da crise de energia, acelerou o ritmo de recuperação da produção”, disse o economista sênior do Caixin Insight Group, Wang Zhe, em um comunicado que acompanha o lançamento dos dados.
“Mas a demanda estava relativamente fraca, suprimida pela epidemia de Covid-19 e pelo aumento dos preços dos produtos.”
Os dados da China destoam de outros países da região, para os quais a atividade industrial parecia estar se recuperando.
Os dados dos PMI’s de novembro evidenciam expansão em países como Japão, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Filipinas.
O PMI do Japão subiu para 54,5 no mês passado, ante 53,2 em outubro. O ritmo de expansão foi o mais rápido em quase quatro anos.
Na Coreia do Sul, o PMI subiu de 50,2 para 50,9 em outubro, mantendo-se acima do limite de 50, que indica expansão na atividade pelo 14º mês consecutivo.
Por outro lado, a produção encolheu na Coreia do Sul pelo segundo mês consecutivo, enquanto a quarta maior economia da Ásia se esforça para recuperar totalmente o ímpeto em face de interrupções persistentes na cadeia de abastecimento.
O economista da Capital Economics, Alex Holmes, disse: “No geral, com os novos pedidos de exportação voltando para os países anteriormente prejudicados pelos surtos da Delta e a interrupção mais abaixo na cadeia de abastecimento ainda em curso, há muito espaço para uma recuperação contínua na indústria regional.”
A atividade manufatureira da Índia cresceu pelo ritmo mais rápido em 10 meses no mês passado, impulsionada por uma forte recuperação na demanda.
O PMI do Vietnã subiu de 52,1 em outubro para 52,2 em novembro, enquanto o das Filipinas aumentou de 51,0 para 51,7.
A atividade manufatureira de Taiwan continuou a se expandir no mês passado, mas em um ritmo mais lento, com o índice atingindo 54,9 em comparação com 55,2 em outubro.
O quadro foi semelhante para a Indonésia, que viu o PMI cair de 57,2 para 53,9 em outubro.
As pesquisas de novembro provavelmente não refletiram a disseminação da variante ômicron, que poderá adicionar mais pressão nas cadeias de abastecimento interrompidas pela pandemia, com muitos países impondo novos controles de fronteira para se isolar.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.