CADE aprova fusão de HAPV3 e GNDI3. Isso abre margem para ganhos nas ações no curto e longo prazo, segundo analistas.
Apesar da estagnação econômica inibir os investimentos produtivos, várias companhias estão apostando nas fusões e aquisições (F&A) para alavancar os negócios e superar a crise da pandemia da Covid-19.
Esse foi o caso das operadoras de plano de saúde Hapvida (HAPV3) e Notre Dame Intermédica (GNDI3).
O acordo para a fusão foi feito em março deste ano, quando foi decidido que a companhia combinada seria composta por 53,6% de ações da Hapvida e 46,4% da Intermédica.
Entretanto, a junção somente seria válida após passar pela aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Após meses de espera e um aprofundamento na análise, a instituição aprovou ontem, terça-feira (15/12), a união entre duas das maiores empresas do setor de saúde brasileiro.
Com isso, a fusão gerou a maior operadora de planos de saúde do país, com cerca de 14 milhões de usuários de planos de saúde e dental. Juntas, a companhia combinada tem valor de cerca de R$ 83 bilhões, na atual cotação.
Agora, o mercado deverá ficar atento pois há um prazo de 15 dias para possíveis manifestações de membros do tribunal do Cade. O risco é que algum membro peça a revisão do laudo ou até mesmo proponha medidas restritivas com as empresas se julgarem necessário.
Para o Banco Safra, o resultado da decisão do CADE “é um pouco melhor do que o esperado, pois acreditamos que o mercado esperava a necessidade de vender ativos que representavam aproximadamente 2% a 3% dos membros combinados”.
Isso justifica a subida forte dos preços das ações de ambas as empresas nesta quinta-feira (16/12). No início do pregão, os ativos da Hapvida disparam 7,48%, enquanto os da Intermédica ganham 8,58%.
Segundo relatório dos analistas do banco Santander, enviado a clientes no início do mês, as ações da Intermédica e Hapvida têm forte potencial de alta.
Entre os vetores de crescimento que podem elevar as cotações, os analistas Caio Moscardini e Artur do Amaral Alves mencionam: 1) Melhora na dinâmica dos lucros; 2) Potencial aprovação da proposta de fusão das empresas e 3) Anúncios oficiais de novas sinergias.
“No caso de estes catalisadores se confirmarem, acreditamos que ambas as empresas podem vir a ser reclassificadas positivamente”, afirmaram em nota.
Ainda segundo Moscardini e Alves, as sinergias de R$ 38 bilhões não estão precificadas nos preços atuais das ações e, por isso, o banco manteve a recomendação de compra para ambas empresas.
Os preços-alvos são de R$ 17,00 para a Hapvida e R$ 95,70 para a Intermédica, o que representa ganhos potenciais de 30% e 40%, respectivamente.
A predileção pelo mecanismo de F&A, em vez de investimentos físicos, se deve pelo fato deste tipo de operação permitir tanto a expansão do poder de mercado das empresas quanto a eliminação de competidoras.
Com o aumento do poder de mercado, as empresas que tiveram facilidade no acesso ao mercado de capitais poderão expandir suas margens e criar barreiras à entrada.
Com isso, as F&A são bastante utilizadas pelas organizações com o intuito de elevarem seu poder econômico e, desta forma, aumentar seus ganhos.
Este mecanismo de F&A é colocado em prática principalmente em tempos de crise, como o atual. Esse período é quando algumas empresas perdem valor, enquanto outras conseguem aproveitar as oportunidades geradas pelo acesso privilegiado aos mercados financeiro e de capitais.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.