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O que pensa o Banco Central e quais os próximos passos da política monetária?

Por :
Tales Rabelo Freitas
Atualizado: Dec 16, 2021, 16:57 UTC

O Relatório Trimestral de Inflação emite importantes informações que os investidores monitoram sobre as perspectivas da autoridade monetária sobre seus próprios passos no futuro. 

O que pensa o Banco Central e quais os próximos passos da política monetária?

Nesse artigo:

Um dos principais determinantes dos preços dos ativos no mercado financeiro é o valor da taxa de juros básica da economia, que no Brasil é a taxa Selic.

Por isso, os agentes ficam de olho em todas as palavras emitidas pela autoridade monetária nacional, e tentam, a todo momento, descobrir quais serão os próximos passos do Banco Central.

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária), por exemplo, é fortemente aguardada por analistas por apresentar as principais justificativas para as decisões passadas e o seu planejamento para os próximos períodos.

Outro importante documento que contém informações importantes para ancorar as avaliações sobre o que os membros do BC estão pensando é o Relatório Trimestral de Inflação.

Neste relatório, temos todas as projeções de indicadores que a autoridade monetária leva em conta para tomar suas decisões sobre os juros.

Hoje, por exemplo, o Banco Central do Brasil está intensamente focado em controlar a variação dos preços. 

Como sabemos, o ano de 2021 já foi perdido, visto que teremos uma inflação na casa dos 10%. Sendo assim, o objetivo é levar o IPCA para dentro do intervalo da meta em 2022 e para o centro da meta em 2023.

Desta forma, a inflação é variável chave para a determinação das decisões futuras sobre a Selic.

Se o IPCA cair para patamares abaixo do esperado pelo BC, então os agentes de mercado passarão a esperar uma Selic futura mais baixa, o que animará os investidores e poderá provocar corridas para as bolsas.

Por outro lado, se a inflação vier mais alta do que o projetado, o contrário ocorrerá: haverá expectativas de juros mais altos e fuga da renda variável.

Com tudo isso em mente, vejamos qual o cenário que o BC tem em conta atualmente, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira (16/12).

Estimativas de inflação

A inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, surpreendeu no trimestre encerrado em novembro, situando-se 1,42 p.p. acima do cenário projetado pelo Copom (a projeção era de 1,98%, mas veio em 3,40%). 

Com isso, a pressão inflacionária se mostrou maior do que os analistas de mercado antecipavam, o que justificou o aumento forte da Selic, em 1,50% nas últimas reuniões.

A principal contribuição para a surpresa inflacionária no trimestre está relacionada ao preço dos combustíveis, refletindo piora de fatores condicionantes.

Para o próximo trimestre, que se encerrará em fevereiro, o Copom está considerando uma inflação de 1,47%. Nesse cenário, a inflação acumulada em doze meses recua para 9,90% em fevereiro.

Portanto, fique de olho: uma inflação abaixo da esperada possivelmente indicará um aumento menor da Selic na próxima reunião, que será no início de fevereiro.

Entre os fatores que podem levar à uma queda dos preços daqui pra frente está a queda substancial esperada nos preços de combustíveis, principalmente em janeiro. 

Nesse mês também se espera recuo acentuado dos preços de passagem aérea, enquanto que para os demais componentes a projeção é, em geral, de persistência das pressões inflacionárias. 

No relatório, o Copom comunicou que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em duas as direções. 

Primeiro, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. 

Em segundo plano estão as questões fiscais. Existe o receio de que novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal, elevando os prêmios de risco do país.

Condução da política monetária

O Relatório Trimestral de Inflação também toma nota dos outros fatores que afetam a determinação da taxa Selic.

No cenário externo, a opinião do BC é que o ambiente se tornou menos favorável. 

Nesse ponto, as condições desafiadoras da economia global, junto com o receio de uma nova onda da Covid-19, ocasionada pelo aparecimento da variante ômicron, têm feito com que os Bancos Centrais das principais economias do mundo mantenham a cautela.

Isso é positivo para o Brasil, pois a manutenção dos juros baixos nos outros países diminuirá as pressões sobre o câmbio por aqui.

Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram novamente uma evolução moderadamente abaixo da esperada, o que, na visão do BC, não se mostra um problema para a manutenção da estratégia atual de aperto monetário.

Decisão atual e perspectiva futura

Com tudo isso em conta, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 9,25% a.a. na última reunião e afirmar que manterá a estratégia de aumento atual

O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva.

Para o BC, a estratégia atual “é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023”. 

Por enquanto, as preocupações com a atividade econômica estão em segundo plano. Isso está explícito na nota quando a instituição relativiza os recentes dados de queda no PIB.

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.” 

Por fim, os agentes de mercado têm como dado um outro aumento de 1,50% na próxima reunião, conforme indicado no próprio relatório, que afirma que “para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude”. 

Porém, essa decisão poderá ser modificada caso se alterem as condições da trajetória de desinflação brasileira e também as expectativas dos agentes em relação ao futuro.

Sobre o Autor

Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.

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