Por Lisandra Paraguassu BRASÍLIA (Reuters) - A recepção brasileira ao chanceler russo, Sergei Lavrov, e uma série de comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia após a viagem à China levaram o Brasil ser acusado de comprar um lado no conflito, com o governo norte-americano dizendo que o país está repetindo propaganda russa e chinesa.
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – A recepção brasileira ao chanceler russo, Sergei Lavrov, e uma série de comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia após a viagem à China levaram o Brasil ser acusado de comprar um lado no conflito, com o governo norte-americano dizendo que o país está repetindo propaganda russa e chinesa.
No governo brasileiro, no entanto, as críticas são devolvidas. Apesar de haver um reconhecimento de que algumas falas de Lula “causaram ruído”, a visão é de que existe uma pressão para que Brasília se alinhe totalmente com as posições norte-americanas e da União Europeia, disse à Reuters uma fonte diplomática.
Nas últimas semanas, Lula afirmou que talvez a Crimeia, região da Ucrânia ocupada pela Rússia desde 2014, pudesse continuar sob o governo de Vladimir Putin. Em viagem à China, afirmou que os dois países tinham interesse na guerra e, na última sexta-feira, afirmou que EUA e UE deveriam parar de fornecer armas e “incentivar” o conflito.
A recepção do ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, nesta segunda-feira, na qual ele celebrou que o Brasil “entendia” as razões da Rússia para iniciar a guerra, coroou o mal-estar.
A resposta veio. Peter Stano, porta-voz para assuntos externos da UE, afirmou que a Rússia “é a única responsável” pela guerra na Ucrânia. À Reuters, um embaixador europeu disse que “soou o alarme” a declaração do presidente de que os países deveriam parar de enviar armas à Ucrânia.
“É uma guerra de agressão e defesa. Se eles (ucranianos) não tivessem armas, perderiam o direito a autodefesa”, disse o diplomata.
A reação mais dura veio dos Estados Unidos. John Kirby, conselheiro de Segurança da Casa Branca, afirmou que o Brasil “estava repetindo como papagaio a propaganda russa e chinesa”, e que os comentários feitos por Lula foram “simplesmente mal orientados.”
Perguntado sobre a fala de Kirby, o chanceler Mauro Vieira rechaçou a fala no norte-americano. “De forma alguma concordo. Não sei como nem porquê ele chegou a essa conclusão, mas não concordo de forma alguma”, disse o chanceler ao sair do encontro entre Lavrov e Lula, no Palácio da Alvorada.
Vieira ressaltou que não tinha visto a fala: “Desconheço as razões pelas quais ele disse isso”.
A menção à China pela Casa Branca acontece depois que Lula disse que “ninguém” impediria o Brasil de se aproximar de Pequim, num contexto de tensão entre as potências.
A visão oficial brasileira é que existe uma exigência de “alinhamento absoluto” por parte dos Estados Unidos, o que não irá acontecer.
“Tem ruídos, mas não muda a posição brasileira, que condenou a invasão russa e continua condenando”, disse a fonte. “Incomoda, porque o Brasil está no meio do debate e não está nem de um lado nem de outro. Tem uma voz própria que não obedece”, disse a fonte.
Se Lula falou várias vezes do conflito — com jornalistas no Brasil, na volta da China e nos Emirados Árabes Unidos — e não se furtou a opinar sobre questões espinhosas, como armas e Crimeia, seus assessores vinham sendo mais comedidos.
A chancelaria e o assessor especial do Planalto, Celso Amorim, que esteve em Moscou a pedido do presidente, ven repetindo a posição brasileira de condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia, defendida pelo país na ONU, e dizendo que o foco deveria ser na saída do conflito, sem teses prévias.
Até o momento, com essa condução, o Brasil tinha conseguido o apoio do francês Emmanuel Macron para a ideia de criação de um grupo de países para negociar o fim da guerra, com a possível participação da China.
Seja como for, na visão brasileira a avaliação é de que os ruídos são normais e são dirimidos na diplomacia. E, mesmo com a reação, o Brasil vai continuar batendo na tecla da necessidade de discutir a paz.
Há uma admissão, no entanto, de que o momento para isso não é agora, que os países não estão pronto para sentar e falar sobre um acordo de paz. “Tem que esperar primavera, verão… e ver o que acontece. Mas nós vamos continuar insistindo, alguém tem que falar sobre a paz”, disse a fonte.
(Reportagem adicional de Anthony Boadle)
A Reuters, o departamento de notícias e media da Thomson Reuters, é o maior fornecedor de notícias multimédia internacional do mundo, chegando a mais de mil milhões de pessoas todos os dias. A Reuters fornece notícias sobre negócios, financeiras, nacionais e internacionais de confiança a profissionais através dos computadores da Thomson Reuters, das organizações de meios de comunicação social mundiais, e diretamente aos consumidores na Reuters.com e através da Reuters TV.