SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía, mas continuava sendo negociado próximo dos 5,30 reais na manhã desta quinta-feira, e, segundo investidores, tem espaço para alcançar patamares ainda mais elevados em meio à grande tensão institucional doméstica, agravada recentemente por discurso mais agressivo do presidente Jair Bolsonaro.
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar ampliou as perdas contra o real no fim da manhã desta quinta-feira, com operadores realizando lucros depois da disparada da moeda norte-americana na véspera, mas o clima nos mercados segue azedo em meio à grande tensão institucional doméstica, agravada recentemente por discurso mais agressivo do presidente Jair Bolsonaro.
Às 11:37, o dólar recuava 0,97%, a 5,2722 reais na venda. Na mínima do dia, a divisa foi a 5,2610 reais na venda, queda de 1,18%.
Segundo Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos, a queda do dólar nesta quinta-feira seria apenas uma pequena realização de lucros, com o clima nos mercados ainda extremamente pessimista. Na quarta-feira, o dólar à vista saltou 2,84% no fechamento, para 5,3236 reais, maior valorização percentual diária desde 24 de junho de 2020 (+3,33%).
Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, também enxerga o movimento desta manhã como um ajuste, apoiado em parte pela leve queda do índice do dólar no exterior, mas disse que é “uma correção ainda tímida” comparada com a alta de quarta.
“O cenário ainda ruim deve manter o dólar próximo dos 5,30 reais e com viés de alta; uma prévia bastante temerosa do que há por vir durante a corrida eleitoral”, disse.
Para Nagem, da Terra, “a tendência do mercado é ir ainda mais para cima, e o dólar pode buscar uns 5,40 reais” no curto prazo.
Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex Bank, concorda que as tensões em Brasília devem continuar atrapalhando o desempenho do real. “Acho muito difícil o dólar ficar abaixo dos 5,30 reais no curto prazo, a não ser que haja uma grande virada de jogo na política”, opinou.
Segundo ele, não fosse o intenso ciclo de elevação de juros do Banco Central –que aumenta a atratividade do real para estratégias de “carry trade” (que buscam lucros com diferenciais de taxas de juros)–, o dólar estaria em patamar ainda mais elevado.
Os investidores –que já apresentavam cautela sobre o cenário doméstico há semanas em meio a temores sobre a capacidade do governo de honrar suas obrigações e respeitar o teto fiscal– intensificaram o resguardo na esteira de discurso de Bolsonaro em atos do dia 7 de setembro.
Na ocasião, Bolsonaro atacou, diante de apoiadores, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso e ameaçou descumprir decisões.
Nesta quinta-feira, Barroso revidou e disse que Bolsonaro descumpre a palavra dada ao manter o que chamou de “campanha insidiosa” contra o sistema eletrônico de votação.
Elevando a apreensão dos mercados, a madrugada contou com paralisações em estradas de vários Estados brasileiros por caminhoneiros em apoio ao governo. O presidente vai se reunir ainda na manhã desta quinta-feira com representantes da categoria, disse Bolsonaro a apoiadores.
(Edição de José de Castro)
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