SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha leve alta frente ao real nesta sexta-feira, mais um dia de ampla força da moeda norte-americana em meio a temores internacionais sobre a inflação e a Covid-19, enquanto incertezas fiscais domésticas continuavam no radar.
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar oscilava entre estabilidade e leve queda ante o real nesta sexta-feira, mas caminha para registrar ganhos semanais após várias sessões de ampla força da moeda norte-americana no exterior, em meio a temores globais sobre aperto monetário nos Estados Unidos, enquanto incertezas fiscais domésticas continuavam no radar.
Às 10:20, o dólar recuava 0,07%, a 5,5660 reais na venda. O contrato mais negociado de dólar futuro, por sua vez, ganhava 0,04%, a 5,570 reais.
Em “dia sem ‘driver’ principal entre as notícias, o mercado está fazendo uma correção depois dos últimos pregões de alta do dólar”, disse à Reuters o analista-chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko. A moeda norte-americana à vista fechou a quinta-feira em 5,5697 reais na venda, acumulando valorização de 3,08% nos últimos quatro pregões.
Embora recuasse ligeiramente nesta sessão, o dólar ainda ficava a caminho de avançar 2% em relação ao fechamento da última sexta-feira, de 5,4569 reais.
Esta foi uma semana difícil para moedas emergentes de todo o mundo, uma vez que expectativas crescentes de aperto monetário mais cedo do que o esperado nos Estados Unidos impulsionaram o dólar a máximas em 16 meses contra uma cesta de rivais fortes recentemente.
Sinais de recuperação da atividade econômica no país, combinados à notícia de que a inflação norte-americana subiu à maior taxa em mais de três décadas em outubro em relação ao mesmo período do ano anterior, têm elevado a pressão sobre o Federal Reserve para que aumente os juros já no ano que vem de forma a esfriar as pressões sobre os preços.
Custos de empréstimos mais altos na maior economia do mundo são amplamente vistos como benéficos para o dólar e prejudiciais para o apelo de moedas consideradas arriscadas, uma vez que elevariam a rentabilidade nos mercados dos EUA, destino visto como mais seguro para investimentos.
Além da política monetária, Panonko alertou que o noticiário em torno da propagação da Covid-19 na Europa, com alguns países impondo ou considerando a possibilidade de adotar lockdowns devido a novo surto da doença, podem elevar a cautela nos mercados internacionais no curto prazo. Isso por sua vez, possivelmente elevaria a demanda pela segurança do dólar.
No Brasil, o ambiente segue repleto de incertezas na frente fiscal, conforme investidores acompanham o andamento da PEC dos Precatórios no Congresso.
O mercado passou a considerar que a proposta — pelo menos no formato aprovado em segundo turno pela Câmara dos Deputados neste mês — seria, entre opções disponíveis para o governo fornecer auxílio à população de pelo menos 400 reais por família no ano que vem, a menos inclinada a descontrole total das contas públicas.
Mesmo assim, a PEC continua sendo vista como prejudicial à credibilidade fiscal do Brasil, por alterar o prazo de correção do teto de gastos pelo IPCA, abrindo espaço para o país gastar mais. “Apesar de isso não configurar tecnicamente que o teto foi ‘furado’, a mudança da regra no meio do caminho impacta negativamente a credibilidade do regime fiscal”, explicaram em relatório analistas da Genial Investimentos.
“O teto, na nossa avaliação, é um mecanismo fundamental para dar credibilidade à dívida pública (…). A questão é: mesmo com a permanência do teto (alterado), quem garante que não será revisto novamente?”
Até agora neste ano, o dólar acumula alta de mais de 7% frente ao real.
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