WASHINGTON (Reuters) - As autoridades do Federal Reserve que se reuniram em junho avaliaram que o objetivo de mais progresso substancial da recuperação dos Estados Unidos ainda não fora atingido de forma geral, embora os participantes esperem que os avanços continuem, de acordo com a ata do encontro do banco central norte-americano divulgada nesta quarta-feira.
Por Howard Schneider e Jonnelle Marte e Lindsay Dunsmuir
WASHINGTON (Reuters) – As autoridades do Federal Reserve que se reuniram em junho avaliaram que o objetivo de mais progresso substancial da recuperação dos Estados Unidos ainda não fora atingido de forma geral, mas concordaram que devem estar preparados para agir caso a inflação ou outros riscos se materializem, mostrou a ata do encontro do banco central norte-americano divulgada nesta quarta-feira.
Em documento que reflete um Fed dividido entre novos riscos de inflação e uma taxa de desemprego ainda relativamente alta, “vários participantes” da sessão sentiram que as condições para reduzir as compras de ativos serão “atingidas de certa forma mais cedo do que eles esperavam”.
Outros viram um sinal menos claro a partir dos dados e alertaram que a reabertura da economia após a pandemia de Covid-19 resultou em um nível de incerteza incomum, que requer uma abordagem “paciente” para qualquer mudança na política monetária, indicou a ata.
Ainda assim, uma “maioria substancial” das autoridades viu riscos inflacionários “inclinados para cima”, e o Fed como um todo sentiu que precisa estar preparado para agir caso esses riscos se materializem.
“Em geral, os participantes julgaram que, por uma questão de planejamento prudente, é importante estar bem posicionado para reduzir o ritmo de compras de ativos, se apropriado, em resposta a acontecimentos econômicos inesperados, incluindo progresso mais rápido do que o esperado na direção das metas do Comitê ou o surgimento de riscos que possam impedir o cumprimento das metas do Comitê”, apontou a ata.
A ata pouco fez para esclarecer quando o Fed começará a alterar as compras mensais de títulos e as taxas de juros próximas a zero, implementadas na primavera de 2020 (no Hemisfério Norte) para dar suporte à economia durante a pandemia de coronavírus e a recessão associada à crise sanitária.
O documento mostrou, porém, que o debate mais sério sobre essas políticas de fato começou, com autoridades do Fed apresentando um conjunto amplamente divergente de opiniões sobre os riscos que a economia enfrenta, o nível de incertezas e até mesmo mergulhando em detalhes, como a possibilidade de se reduzir as compras de títulos atrelados a hipotecas mais rápido do que as de Treasuries.
“A recalibração da política monetária está na mesa agora”, disse Bob Muller, chefe de renda fixa multissetorial para os EUA da BlackRock, chamando atenção para a “substancial dispersão de opiniões” no banco central.
MOMENTO DA REDUÇÃO DE ESTÍMULOS
A reunião de 15 e 16 de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) mostrou que o banco central dos Estados Unidos passou a carregar uma visão pós-pandemia do mundo, retirando a antiga referência ao coronavírus como restrição à economia e, nas palavras do chair do Fed, Jerome Powell, “falando sobre falar” quando mudar a política monetária também.
O início dessa discussão, junto com projeções para a taxa de juros mostrando custos de empréstimos mais elevados já em 2023, levou investidores a prever que o Fed vai agir mais rapidamente do que o esperado para encerrar seu suporte a uma economia que ainda sofre com altos níveis de desemprego e, agora, com inflação em ascendência.
O analista da Cornerstone Macro Roberto Perli escreveu recentemente que “o mercado vê a mudança do Fed como prejudicial às perspectivas de longo prazo para a economia dos EUA”, com o compromisso do Fed de retornar ao pleno emprego enfraquecendo diante da inflação mais alta do que o esperado.
Powell, em declarações a repórteres ao fim da reunião do mês passado, disse que qualquer aumento na taxa de juros referencial do Fed ante o atual nível de quase zero permanece distante. Ele afirmou, no entanto, que o Fed iniciaria uma avaliação “reunião por reunião” sobre quando começar a reduzir suas compras mensais de 120 bilhões de dólares em títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas e sobre como anunciar seus planos para isso.
A economia dos EUA, disse ele naquele momento, ainda estava “longe” do progresso na criação de vagas de trabalho que o Fed quer ver antes de reduzir seu programa, que sustenta a economia tornando as compras de moradias, carros e itens similares mais fácil ao reduzir custos de empréstimos para famílias e empresas.
O que investidores querem saber é a rapidez das discussões e quando a redução real dos estímulos pode começar.
Várias autoridades regionais do Fed disseram sentir que a economia está perto do ponto em que o banco central deve recuar. Entretanto, mesmo algumas delas indicaram que demorará várias reuniões para desenvolver e anunciar um plano de redução das compras.
As próximas duas reuniões do Fed estão marcadas para 27 e 28 de julho e 21 e 22 de setembro. Nesse ínterim, o banco central vai realizar sua conferência em Jackson Hole, Wyoming, evento que os chefes do Fed muitas vezes usaram para sinalizar mudanças na política monetária.
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