As retrações e projeções de Fibonacci são duas das ferramentas mais interessantes da análise técnica. Elas facilitam o entendimento da dinâmica de preços, além de indicar possíveis pontos de reversão da tendência ou continuidade da mesma.
Leonardo Fibonacci foi um matemático italiano que criou uma sequência numérica para descrever o crescimento populacional de coelhos. Com base nas observações que ele fez, chegou a conclusão que a cada novo período de tempo (vamos supor que o período seja de 1 mês), o número de coelhos aumentava.
Para definir o número total de coelhos em um dado período, era necessário encontrar a sequência numérica que corresponde a este crescimento populacional. Fibonacci percebeu então, que deveria ser feita uma soma a cada novo período para se chegar ao montante atual. Esta soma se dá pelo número atual, mais o número correspondente ao período anterior.
Ou seja, se no primeiro período (mês) se tem 1 unidade (ou seja, 1 coelho), no segundo período haverá 2 unidades (1 + 1 = 2). Assim sendo, no terceiro período o montante será de 3 unidades (2 + 1 = 3), no quarto, 5 unidades (3 + 2 = 5) e assim sucessivamente.
Sequência de Fibonacci: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377…
Após desenvolver esta sequência, Fibonacci passou a estudar a mesma. Nestes estudos, verificou que ao dividir um número, pelo número seguinte, sempre encontrava o mesmo resultado. Quanto maior o número, mais precisa se torna esta divisão.
21/34 = 0,618
34/55 = 0,618
233/377 = 0,618
De forma similar, ao dividir um número pelo número correspondente dois períodos à frente, também se obtém sempre o mesmo resultado.
21/55 = 0,382
34/89 = 0,382
89/233 = 0,382
Fazendo a divisão de um número da sequência pelo número do período anterior, o resultado também se repete.
55/34 = 1,618
89/55 = 1,618
377/233 = 1,618
A partir destes números surgiram as retrações e projeções de Fibonacci. As retrações mais tradicionais são:
38,2%
50%
61,8%
Já as projeções são:
61,8%
100%
161,8%
Um dos conceitos da análise técnica diz que toda tendência é válida até ser revertida. No entanto, um movimento direcional, seja de alta ou de baixa, pode corrigir até 61,8% e ainda assim continuar trabalhando na tendência original.
Conforme mostrado na imagem, o ativo estava trabalhando em tendência de baixa, o que pode ser observado pela inclinação da média móvel aritmética de 20 períodos (MMA20). Após fazer um forte movimento de queda, começou a subir e foi segurado pela MMA20, que neste momento, serviu como resistência.
Em seguida, o preço caiu novamente rompendo fundo, mas começou a subir e superou a MMA20. Com esse movimento, seria possível imaginar que poderia ocorrer a inversão da tendência. Mas, traçando as retrações de Fibonacci, fica claro que a retração de 61,8% ainda não havia sido superada e serviu de resistência. O preço tentou por duas vezes superar esta retração, porém não conseguiu e deu continuidade à tendência de baixa.
Estas mesmas condições também são válidas para movimentos de tendência de alta.
A principal utilização das retrações de Fibonacci é identificar resistências e suportes com base nos movimentos de tendência realizados. A forma mais fácil de fazer isso é desenhar um canal, ou linha de tendência (LTA – Linha de Tendência de Alta, LTB – Linha de Tendência de Baixa) sobre a movimentação do ativo. Quando o canal é perdido, podem ser traçadas as retrações, que por sua vez indicam as linhas de suporte ou resistência.
Conforme apresentado no gráfico, o IBOV entrou em uma forte tendência de alta após testar a média móvel aritmética de 200 períodos (MMA200). Desenhando um canal sobre o movimento, é possível identificar quando o ativo iniciará um movimento de correção. A correção normalmente ocorre quando o ativo perde efetivamente o canal.
Conforme indicado pela primeira seta amarela, após perder o canal e testar a MMA20, o ativo corrigiu e testou a retração de 38,2%. Em seguida, perdeu o suporte, mas se segurou na retração de 50%. Esta retração foi testada por dois dias seguidos, porém, os compradores seguraram o preço. Quando finalmente o ativo superou a MMA20, a retração de 38,2% foi testada novamente. Mas, o suporte foi respeitado dando impulso para a continuidade da alta.
Quando a tendência é perdida, as retrações de Fibonacci também ajudam a entender a dinâmica de preços.
Utilizando o gráfico do IBOV ainda, vemos que o ativo deu sequência à tendência de alta, trabalhando dentro de um canal. Quando o canal foi perdido, as retrações de Fibonacci foram traçadas. No primeiro movimento de correção o ativo testou a retração de 38,2%, sendo que esta se comportou como um suporte e segurou o preço por alguns dias.
Em um novo movimento de baixa, o ativo foi até a retração de 61,8%. A retração novamente segurou o preço, que subiu até a MMA20. Um novo teste na retração de 61,8% foi executado, contudo, na sequência o suporte foi perdido com uma forte queda.
Após o suporte ser perdido, este se comportou como uma resistência, que foi testada após a forte queda. Uma movimentação como essa sugere que o ativo busque o fundo, visto que após perder a retração de 61,8% foi realizado o pullback e na sequência o movimento de baixa continuou.
Normalmente, quando uma tendência de alta ou de baixa é perdida, uma nova tendência se inicia. Esta pode ser contrária à primeira, ou uma tendência lateral.
Enquanto as retrações de Fibonacci ajudam a identificar possíveis pontos de suporte e resistência quando os ativos fazem movimentos de correção da tendência, as projeções indicam até onde o movimento de tendência pode chegar, antes de iniciar uma correção.
O gráfico do S&P 500 mostra como é interessante fazer a projeção de Fibonacci.
Após um movimento de correção, o ativo fez fundo e acionou um pivô de alta (indicado pelas setas brancas). Fazendo a projeção do pivô (a projeção é feita com base na primeira seta branca), observamos que o ativo fez um forte movimento de alta até alcançar a região de 161,8%, onde então passou a andar de lado.
Para uma operação de compra no rompimento do pivô, seria possível colocar uma ordem de venda no alvo de 161,8%. Essa seria uma operação muito interessante, pois teria gerado um ótimo lucro sem qualquer preocupação (o ativo praticamente andou em linha reta até o alvo).
Outra forma de fazer a projeção de um pivô é com base no movimento de correção que este realizou.
O gráfico do índice Nasdaq mostra que o ativo vinha em tendência de alta, corrigiu até a retração de 61,8% e depois continuou subindo, acionando um grande pivô de alta.
Como o movimento de correção foi até a retração de 61,8%, a pressão compradora não se mostra tão forte. Por isso, é mais indicado que seja feita a projeção do movimento de correção. Ou seja, a projeção é feita com base no movimento realizado pela segunda seta branca (apontada para baixo).
Nesta operação, como pode ser visto, o ativo não alcançou o alvo de 161,8%, pois começou a corrigir antes disso. Mas, ainda assim seria uma operação vencedora, pois no momento em que o ativo retornou até o alvo de 100% após ter superado ele, seria adequado fazer a venda.
Espero que esse artigo tenha contribuído para o seu aprendizado. Se você utilizar as retrações e projeções de Fibonacci nos seus estudos, certamente estes ficarão mais refinados.
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Este é o segundo artigo de uma série de 10 onde serão apresentados os principais fundamentos do Price Action. Sendo que o primeiro artigo é justamente “Entendendo o Price Action”, o qual recomendo fortemente a leitura.
Anderson é Mestre em Engenharia Mecânica pela UFSC, mas desde 2015 vem estudando e trabalhando com o mercado financeiro, a partir de 2019 passou também a atuar como educador financeiro ajudando outras pessoas a aprenderem técnicas e estratégias para se conhecerem e tirarem o melhor proveito do mercado. Apaixonado pela leitura, ela já leu centenas de livros relacionados ao mercado financeiro e desenvolvimento pessoal.