O petróleo vem caindo fortemente nos últimos dias devido às incertezas com a variante ômicron. Investidores também acompanham o embate entre OPEP e EUA.
Nos últimos dias, a preocupação entre os negociantes de petróleo com a descoberta de uma nova nova cepa da Covid-19 na África do Sul vem guiando os preços da commodity energética.
O receio é de que a nova onda de contaminação poderá levar à retomada das medidas de restrição do comércio e circulação de pessoas, mesmo com o avanço das vacinas.
Ainda se sabe pouco sobre a ômicron, mas caso se confirmem as especulações sobre a capacidade de transmissão e resistência às vacinas, o impacto inicial da nova variante provavelmente será o prolongamento dos controles de viagens e atraso na recuperação na aviação internacional e no consumo de petróleo.
A queda dos preços tem fortalecido a estratégia dos EUA de liberar parte de suas reservas de emergência para combater as pressões da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados).
Porém, o cartel internacional não deverá tolerar preços muito baixos por muito tempo e, dessa forma, poderá retaliar com restrições adicionais à oferta de petróleo.
As últimas notícias mostram que os Estados Unidos estão prontos para liberar ainda mais barris de petróleo bruto de seus estoques de emergência, disse um consultor sênior do Departamento de Estado à CNBC hoje.
A administração do presidente Joe Biden anunciou na semana passada que iria liberar 50 milhões de barris de petróleo bruto das Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR na sigla em inglês) para derrubar os preços da gasolina.
Mas, de acordo com Amos Hochstein, consultor sênior do Departamento de Estado dos EUA para segurança energética global, os Estados Unidos têm o suficiente para liberar ainda mais.
“Esta é uma ferramenta que estava disponível para nós e estará disponível novamente”, disse Hochstein.
A declaração ousada de que os Estados Unidos poderiam liberar ainda mais petróleo bruto vem a alguns dias antes da reunião da OPEP+ que decidirá se deve manter o curso com seu aumento de produção planejado de 400.000 barris por dia, interromper o aumento ou até mesmo cortar a produção.
Na esteira das decisões dos EUA, surgiram relatórios quase imediatamente após o anúncio do SPR de que a Arábia Saudita e a Rússia, os líderes da aliança ampliada OPEP +, já estavam considerando uma suspensão da política de aumento da produção.
Segundo documento citado pela Bloomberg, o Conselho da Comissão Econômica do grupo – um órgão consultivo dentro da organização – disse esta semana que os estoques de petróleo liberados pelos Estados Unidos e seus parceiros aumentariam o superávit global de petróleo em cerca de 1,1 milhão de bpd (barris por dia) em janeiro e fevereiro.
Ainda segundo o documento, se 66 milhões de barris fossem adicionados à oferta global pelos EUA e seus aliados, o excesso de petróleo global aumentaria para 2,3 milhões de bpd em janeiro de 2022 e 3,7 milhões de bpd em fevereiro.
Considerando ainda o cenário de incertezas geradas pela nova variante do coronavírus, analistas começam a apostar numa possível suspensão das adições de produção dos 400.000 bpd, ou até mesmo restrições ainda maiores por parte dos membros da OPEP+.
“Eu acho que enquanto nos dirigimos para a reunião da OPEP na quinta-feira, a questão não é apenas fazer uma pausa, mas sim se eles poderão realmente diminuir a produção de barris por causa das preocupações sobre esta nova variante junto com a liberação excessiva de SPR”, disse Helima Croft, Chefe de estratégia global de commodities da RBC Capital Markets.
Para John Kilduff, do Again Capital, a OPEP fará seu movimento se o WTI cair abaixo de US$ 70.
“Certamente, a OPEP e os sauditas podem vencer porque estão na posse de todas as cartas. Eles podem manter mais óleo fora do mercado do que a liberação de reservasd dos EUA pode colocar no mercado. Se o WTI ficar abaixo de US$ 70, eu esperaria uma resposta da OPEP +”.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.