Foi a maior alta para um mês de novembro em 19 anos. O principal vilão foi a gasolina, que saltou 6,62% no mês, enquanto que alimentos e bebidas aliviaram a pressão sobre o índice.
Em dia morno, por causa do feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA, a principal notícia da agenda macroeconômica brasileira ficou por conta da divulgação do IPCA-15, que é uma prévia da inflação oficial do país.
Segundo o IBGE o índice ficou 1,17% no mês de novembro, após alta de 1,20% no mês anterior. O resultado veio praticamente em linha com o esperado por analistas de mercado, que estimavam uma inflação de 1,10% no mês.
Porém, foi a maior variação para um mês de novembro desde 2002, quando o índice foi de 2,08%.
Entre os componentes do índice, o que mais pesou foi os custos de transportes. Aqui é incluído itens como combustíveis, aplicativos de carona, passagens aéreas, transporte público, fretes, entre outros.
Mais uma vez, a gasolina foi a principal responsável pela alta dos preços, com alta de 6,61% no mês.
Esse foi o maior impacto individual no índice do mês, contribuindo com 0,40 ponto porcentual da inflação total. No ano, o combustível acumula variação de 44,83% e, em 12 meses, de 48%.
A boa notícia ficou por conta dos alimentos e bebidas, que vem subindo menos a cada mês. No IPCA-15 de outubro, este grupo sofreu aumento de 1,38%, já em novembro a subida foi menor, de 0,40%, o que representa um arrefecimento na pressão deste componente que tem um peso muito grande no dia a dia do brasileiro.
Vale destacar que a inflação vem afetando não só o Brasil. A disparada dos combustíveis e demais commodities, como a carne bovina, tem sido responsável pelo aumento dos preços nos quatro cantos do globo.
As autoridades monetárias dos principais bancos centrais do mundo argumentam que a disparada dos preços é uma força passageira, resultado de choques de oferta derivados da pandemia da Covid-19.
Entretanto, o aumento persistente dos preços está começando a incomodar, gerando pressão sobre as decisões de política monetária.
Para alguns analistas, a expectativa é de que o aumento dos juros das principais economias do mundo ocorram antes do anunciado pelos Bancos Centrais.
Nos EUA, o mercado visualiza uma correção nos juros já no meio do ano que vem. O Federal Reserve (Fed) vem reduzindo as compras mensais de títulos em 120 bilhões de dólares, os quais vêm sendo injetados mensalmente em compras de ativos financeiros desde o início da pandemia.
As previsões apontam para o início da subida dos juros em junho de 2022, que é quando se finalizará os estímulos por compra de ativos.
Na Europa o Banco Central Europeu (BCE) vem deixando a política monetária inalterada, descartando, por enquanto, um aumento de juros no próximo ano.
Contudo, os membros da instituição tem reconhecido que a inflação levará mais tempo do que o esperado para cair, uma vez que os gargalos na indústria persistem e os preços da energia permanecem altos.
Enquanto isso, no Brasil o Banco Central está bem adiantado na luta contra a inflação. Isso porque a instituição foi uma das primeiras do mundo a iniciar o movimento de alta de juros, que segue a passos largos.
Até o momento, a Selic já subiu de 2%, em maio de 2021, para 7,75%, em decisão na última reunião do COPOM no final de outubro. A expectativa é que o BC suba os juros mais uma vez em 1,50%.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.