Nesta quarta será decidido o rumo da política monetária dos EUA. O resultado também definirá os rumos das bolsas e moedas mundiais.
A principal notícia da semana, com forte potencial de movimentar os mercados, é a reunião do Comitê de Política Monetária dos EUA (FOMC, na sigla em inglês).
O resultado desta reunião definirá os rumos da política monetária a ser implementada pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano.
Na quarta-feira (15/12), a instituição anunciará se irá manter o ritmo atual ou acelerar a retirada de estímulos à economia americana.
A expectativa do mercado é de que o Fed indicará uma redução mais rápida das compras de ativos, o que deve resultar no adiantamento na decisão de aumentar os juros.
Pesquisa da Reuters com economistas de mercado mostrou que o banco deverá aumentar as taxas de juros de quase zero para a faixa entre 0,25% e 0,50% no terceiro trimestre do ano que vem, em movimento seguido por outra elevação no quarto trimestre.
O presidente do Fed, Jerome Powell, tem se mostrado preocupado com a pressão inflacionária, reconhecendo que não dá mais para chamar o descontrole atual dos preços de transitório.
No geral, o teor da decisão sobre a política monetária é de suma importância para ditar os rumos do mercado financeiro, tanto dos EUA quanto do mundo todo, visto que o dólar é a principal moeda internacional.
Um aumento dos juros norte-americanos contribuiria para elevar os incentivos para o investimento no dólar e em títulos do tesouro dos EUA, o que resultaria em uma fuga das bolsas de valores.
Entretanto, entende-se que movimentos mais bruscos nos mercados somente ocorreriam caso a decisão do Fed surpreendesse os investidores globais, com o Fed aumentando os juros logo de cara.
Em tempos com elevada sensação de incerteza, provocada pela pandemia da Covid-19, é improvável que os membros do Fed queiram jogar um componente adicional de instabilidade nos mercados.
Neste caso, qualquer decisão tomada que esteja em linha com as expectativas deverá provocar efeitos suaves nas bolsas, visto que tais eventos já estão precificados nos ativos.
Para tomar a decisão sobre o que fazer com a política monetária, o Fed leva em conta dados sobre a inflação e da atividade econômica do país.
Aumentos dos preços e quedas no desemprego indicam aquecimento econômico, o que requer elevação dos juros para equilibrar o sistema. O contrário ocorre se os preços estiverem caindo e o desemprego subindo, ou seja, os juros são abaixados para reaquecer a economia.
Atualmente, os dados de inflação e emprego têm mostrado que o país vem conseguindo se recuperar do baque provocado pela pandemia da Covid-19.
De acordo com a pesquisa mensal Departamento de Trabalho dos EUA, chamada de relatório Jolts, a abertura de postos de trabalho aumentou em outubro, de 11 milhões no mês, ante 10,4 milhões em setembro.
Os números, divulgados na quarta-feira (08/12), superaram as expectativas dos economistas de mercado, que esperavam 10,4 milhões.
A pesquisa também mostrou declínio constante nas demissões, outro sinal de que as condições do mercado de trabalho estão se apertando.
Os dados de inflação também contribuem para o argumento de aquecimento econômico nos Estados Unidos. Em novembro, a alta dos preços, medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI), foi de 0,8%.
Em 12 meses, a inflação foi de 6,8%, maior valor em 39 anos.
Com esses indicadores no radar, é esperado que o Fed interprete que a economia norte-americana já tenha se recuperado do baque provocado pela pandemia e comece a focar na estabilização, em detrimento dos estímulos ao crescimento.
Tales é Doutor em Economia pela UFRGS. Realiza pesquisas sobre economia institucional, macroeconomia, mercado financeiro, economia brasileira e desenvolvimento econômico, além de trabalhar com cursos de educação financeira.