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PIB do Brasil contrai 0,1% no 3º tri sob peso de agropecuária, e economia entra em recessão técnica

Por :
Reuters
Atualizado: Dec 2, 2021, 14:05 UTC

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou contração no terceiro trimestre, na segunda queda trimestral seguida, resultado que indica recessão técnica da economia brasileira.

Pessoas caminham na rua 25 de Março em São Paulo

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A economia brasileira entrou em recessão técnica ao registrar no terceiro trimestre contração pela segunda vez seguida, com perdas na agropecuária e nas exportações ofuscando ganhos nos serviços, em um cenário de inflação elevada e aumento de juros no país e apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou queda de 0,1% entre julho e setembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.

O IBGE ainda piorou o resultado do segundo trimestre ao revisar o recuo de 0,1% informado antes para retração de 0,4%. Dois trimestres seguidos de contração são considerados como recessão técnica. No primeiro trimestre a economia cresceu 1,3%.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2020, o PIB teve acréscimo de 4,0%. Os resultados vieram piores do que as expectativas em pesquisa da Reuters de estagnação na comparação trimestral e alta de 4,2% na base anual.

Segundo o IBGE, o PIB está agora no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Depois de começar o ano com restrições à movimentação devido à pandemia de Covid-19, o Brasil foi adotando aos poucos o relaxamento das medidas.

Mas o progresso da vacinação, que permitiu maior movimentação de pessoas, bateu de frente com um desemprego alto e inflação elevada, puxada pelo encarecimento do dólar, da gasolina, da energia elétrica e de matérias-primas.

Isso obrigou o Banco Central a aumentar os juros, com a taxa Selic já em 7,75% ao ano e expectativa de nova alta na semana que vem e de que vá a dois dígitos em 2022, restringindo com força a atividade econômica. Até meados de março o juro básico estava na mínima histórica de 2%.

A perspectiva de continuidade desse cenário ganha um novo fator de incerteza neste fim de ano, com a nova variante Ômicron do coronavírus, e vem gerando revisões negativas para a atividade tanto para 2021 quanto para 2022.

AGROPECUÁRIA

Do lado da produção, a Agropecuária foi o destaque negativo na economia no terceiro trimestre, com queda de 8,0% sobre os três meses anteriores, como consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações.

“Acabou o efeito da soja, que é a cultura que cresce neste ano. Teve a seca para afetar ainda mais”, disse a coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

“Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia”, acrescentou Palis, lembrando ainda que este ano é de bienalidade negativa para o café.

Esse resultado ofuscou o crescimento de 1,1% de serviços no período –o setor, que responde por mais de 70% do PIB nacional, beneficia-se da reabertura da economia. Por outro lado, a indústria ficou estável no terceiro trimestre, com crescimento apenas na construção (3,9%).

“Serviços presenciais avançaram após a flexibilização de medidas de restrição. Com a inflação mais alta as famílias estão também migrando do consumo de bens para serviços”, completou Palis.

Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços despencaram 9,8%, pesando também de forma aguda sobre o resultado do PIB, enquanto as importações de bens e serviços recuaram 8,3% na comparação com o segundo trimestre.

Do lado das despesas, o consumo das famílias aumentou 0,9% na comparação com o trimestre anterior e o do governo cresceu 0,8%, por causa dos gastos com saúde. A Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, teve queda de 0,1% no terceiro trimestre, depois de recuar 3,0% no segundo.

A última projeção oficial do Ministério da Economia, divulgada em novembro, é de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,1% neste ano e 2,1% no ano que vem. Nesta quinta-feira, a pasta considerou que mais importante que o número do terceiro trimestre é sua qualidade.

Ao mesmo tempo que a pressão inflacionária vem pesando cada vez mais sobre o cenário, com mais aperto monetário que deve restringir a atividade, estão no radar também questões políticas e fiscais.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, cuja votação no Senado foi adiada para esta quinta-feira, modifica as regras de quitação dessas dívidas do governo, cujo pagamento foi determinado pela Justiça, e altera o prazo de correção do teto de gastos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A proposta pretende dar margem ao Executivo para colocar em prática o Auxílio Brasil em substituição ao Bolsa Família. Além disso, compõem o cenário para 2022 as eleições presidenciais e a redução de estímulos nos Estados Unidos.

(Reportagem adicional de Marcela Ayres; Edição de José de Castro)

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