Em 2022, o rumo da bolsa (e da economia) dependerá do preço do petróleo
O Banco Central do Brasil (BC) já deixou claro que perseguirá implacavelmente a inflação, nem que isso tenha que custar a recuperação econômica e os empregos.
Para Roberto Campos Neto, presidente do BC, é preciso criar um choque recessivo para colocar a inflação no lugar e, no longo prazo, permitir que a economia cresça de forma sustentável.
O problema é que, como já mostrei aqui, o Banco Central (BC) está lutando com instrumentos errados, de modo que seus esforços têm pouco contribuído para controlar as principais variáveis que determinaram o ritmo da inflação desde o início da pandemia: o câmbio e os combustíveis.
O fato é que o descontrole do nível de preços é um fenômeno global, verificado em praticamente todos os países do mundo.
A principal crítica de alguns economistas é que os juros é um instrumento usado para combater a inflação quando esta é derivada de fatores de demanda e não de oferta, como é o caso de agora.
As restrições de mobilidade para o combate da pandemia desequilibrou as cadeias globais de produção e interrompeu o fornecimento de commodities e componentes industriais.
A forte subida do petróleo encareceu os combustíveis. No ano, só a gasolina aumentou mais de 70%. Isso torna os combustíveis o principal vilão da alta inflacionária.
Só esse componente foi responsável por 0,72 pontos percentuais do IPCA total de novembro, que ficou em 0,95%. Enquanto isso, os preços dos outros grupos, como alimentos, bebidas, saúde e gastos pessoais vêm caindo consideravelmente nos últimos meses.
Banco Central persegue algo que não pode controlar
Ao insistir no forte choque monetário, que levou a Selic de 2% para 9,75% em menos de um ano, o Banco Central se mostra como reagente de um fator externo que não está ao seu alcance.
Isso porque a política de preços da Petrobras tem feito ajustes nos combustíveis com base no preço da commodity energética no mercado internacional.
Em relação a isso, não é difícil perceber que o BCB tem pouco poder para afetar os preços do petróleo no mundo.
Dessa forma, o futuro da inflação brasileira (e da economia como um todo) está, indiretamente, nas mãos dos negociantes de petróleo. Se estes aumentarem a demanda pelos contratos de compra, podemos esperar a manutenção da inflação nos próximos meses. Consequentemente, isso induzirá o BC reagir com mais aumentos de juros (além dos quais já estão programados).
Como resultado, tanto a bolsa de valores quanto a economia podem ir pro vinagre, pois é inviável esperar investidores e empresários tomando risco em um cenário de estagnação e com juros maiores do que 12% ao ano.
O contrário ocorrerá se o petróleo melhorar de preço no mercado internacional. A queda dos combustíveis arrefecerá a inflação e poderá acalmar a mão pesada do BC sobre os juros.
Esse cenário causará uma melhora nas expectativas dos investidores, que irão correr para a renda variável motivados pela visão de um horizonte com juros mais baixos.
Resumindo: tudo dependerá de onde o petróleo irá nos próximos meses. Portanto, você, investidor brasileiro, fique atento a isso.
BC mira inflação mas acerta a recessão
Se tem uma coisa que a autoridade monetária brasileira tem total poder é de determinar os rumos do mercado financeiro e da atividade econômica.
Primeiramente, temos que o aumento desenfreado dos juros afetou fortemente o Ibovespa, que, desde junho, caiu cerca de 20% com o encarecimento do capital.
Mas não é só de bolsa de valores que vive a população, não é mesmo?
O aperto na Selic também tem penalizado intensamente a atividade econômica, jogando o país para uma recessão técnica (quando há dois trimestres seguidos de queda no PIB).
Entretanto, não dá para culparmos totalmente o Banco Central pelo fracasso econômico. A bagunça política e falta de planejamento das políticas econômicas e sociais têm contribuído com boa parcela do pessimismo dos agentes econômicos.
Há economistas, inclusive o próprio Campos Neto, que afirmam que a reação do BC de elevar a Selic é apenas um subproduto da condução irresponsável da política de gastos por parte do governo federal e do congresso, cuja aprovação da PEC dos Precatórios colocou um fim simbólico à regra do teto de gastos.
Com o descontrole fiscal, sobrou para o BC o papel de compensar o conjunto de estímulos, com uma contração monetária, para tentar manter o nível de preços sob controle.
Porém, o aumento da Selic praticamente eliminaria os efeitos da própria PEC dos Precatórios. Isso porque a subida dos juros pressionará os gastos com serviço da dívida, o que diminuirá, consequentemente, o espaço fiscal aberto pela própria PEC.
A dívida do governo, sob uma taxa Selic que poderá chegar a 12% em 2022, vai subir consideravelmente, de modo que eliminará quase que totalmente o espaço fiscal aberto pela PEC 23.
Diante desse descompasso entre política fiscal e monetária, além dos imbróglios políticos que nos aguardam, é de imaginar que o brasileiro consciente dificilmente esperará algo positivo na economia em 2022.
Já na bolsa de valores, a depender do petróleo e da reação do Banco Central, talvez dê para visualizar uma recuperação já nos primeiros meses do ano, pois economia real e mercado financeiro nem sempre andam juntos.